Gueuze
Garrafa e lata de Gueuze Boon

Ahoy marujos! Semana passada tivemos um texto explicando tudo sobre as cervejas lambic, o estilo mais antigo do mundo! Hoje continuaremos falando um pouco mais dele e de suas variações, e vamos falar sobre as cervejas lambic tipo Gueuze!

Tradicionalíssimas da Bélgica, as cervejas Gueuze são provavelmente o estilo mais comum, e mais celebrado de Lambic, e se trata da mistura das lambics jovens e velhas.

A História da Gueuze

Nos já explicamos o que são as lambics jovens e velhas no último texto, mas para relembrar aqui: as jovens são as cervejas que passaram até no máximo 1 ano sendo maturadas nos barris de carvalho, enquanto as velhas passaram até 3 anos. Certo?

Rótulo de cerveja Cantillon
Rótulo de cerveja Cantillon

Portanto, a cerveja Gueuze se trata de uma cuidadosa mescla entre esses dois estilos, para gerar uma cerveja única! Mas porque misturar as duas levas de fermentação? Principalmente porque isso causa uma refermentação na própria garrafa da cerveja! Isso significa uma intensa carbonatação, e por conta disso e da leve pressão causada, as garrafas de Gueuze são normalmente vedadas com rolhas, o que lhe confere um aspecto similar ao champanhe.

Cantillon: a cervejaria que não produzia cervejas

Se você já foi atrás de saber um pouco mais sobre cervejas lambic num geraç, provavelmente se deparou com o nome Cantillon. Nomeada em homenagem ao seu fundador, Paulo Cantillon, hoje em dia ela é a cervejaria mais aclamada dentre as produtoras de lambics.

Mas sabe o que é engraçado? No início, beeem lá atrás em 1900, Paulo não produzia suas cervejas! Ele vendia apenas Gueuze, comprando outras cervejas para fazer seus blends (misturas) e revender depois. Foi só no ano de 1937, com a entrada de seus filhos na cervejaria, que eles iniciaram a produção de suas cervejas próprias.

Os anos de 1950 foram os melhores para o negócio, produzindo até 55 levas por ano. Mas já em 1960 a produção caiu devido à falta da clientela tradicional. Se você se interessa em saber de toda a história em detalhes, ela é bem explicada no livro Lambic, de Jean Guinard, publicado em 1998.

Mas já em 1978 uma neta de Paulo Cantillon fez um museu dedicado à Gueuze para melhorar a situação financeira do negócio, e deu super certo: em 1989 já eram 11 mil visitantes, e em 2015 esse número alcançou a impressionante marca de 50 mil visitantes!

A Cantillon ainda permite visitantes em sua cervejaria em Bruxelas, com direito a um tour pelo processo de fabricação e degustação das suas principais cervejas: a Gueuze e a Kriek, uma fruit lambic.

Hoje em dia é difícil que o estilo caia no equecimento, os entusiastas de cerveja artesanal o amam! Mas como dissemos semana passada, o desafio do momento é outro: devido ao aquecimento global, a janela de tempo que as cervejarias tem para produzir a lambic é cada vez menor, pois ela precisa de um clima frio para ser fabricada.

Sabor e Aparência da Gueuze

Após a mistura, uma Gueuze é engarrafada e precisa ser armazenada por pelo menos 6 meses nas prateleiras. Isso para que os açúcares residuais da lambic jovem possam fermentar.  Como resultado disso, a cerveja é dourada tendendo ao âmbar, mas que se torna mais escura com o passar do tempo.

Gueuze Boon
Gueuze Boon

Como já comentamos, o sabor das lambics é bem exótico e pode assustar quem espera uma cerveja “normal”, são bem ácidas e seu aroma lembra mais o de cidra. Mas apesar disso, ela não deixa de ser uma bebida agradável e refrescante!

Com grande formação de espuma fina e cremosa, a bebida apresenta notas rústicas remetendo à couro, feno e estábulo, complementados por notas de cítricas como de limão. Apresentam baixo dulçor e nenhum amargor, além de alta carbonatação, baixo copo e paladar seco, aliados à saborosa acidez.

Quanto à harmonização dessas cervejas selvagens, tente combiná-las com frutos do mar e peixes, especialmente pratos como ceviche e ostras! Bacalhau, mexilhões e saçmão defumado também são ótimas pedidas.

BJCP

Já sabe né? Além dos textos, sempre gostamos de passar as definições da BJCP 2015 sobre o estilo, pois é de lá que baseamos nossa Tabela Periódica de Estilos de Cerveja. Que por sinal, está sendo constantemente atualizada com os textos hein, vale dar uma conferida!

Impressão Geral

Uma complexa cerveja wild belga de trigo, agradavelmente ácida, mas balanceada, altamente carbonatada e muito refrescante. O caráter de fermentação espontânea pode proporcionar uma complexidade muito interessante, com uma vasta gama de características de estábulo, celeiro, cobertor de cavalo, ou de couro que se misturam com sabores frutados-cítricos e acidez.

Aroma

Uma mistura de aromas moderadamente ácidos descrito como de estábulo, couro, terroso, caprílico, feno, cavalo, e cobertor de cavalo. Enquanto alguns podem ser mais predominantemente acres, o equilíbrio é a chave e denota um gueuze melhor. Geralmente frutada, com aromas de frutas cítricas (muitas vezes de grapefruit), maçãs ou outras frutas leves, ruibarbo, ou mel. Um aroma de carvalho muito suave é considerado favorável. Um aroma entérico, esfumaçado, como charuto, ou queijo é desfavorável. Nenhum aroma de lúpulo.

Aparência

Cor dourada, com excelente transparência e uma espuma branca espessa, compacta, como mousse, que parece durar para sempre. Sempre efervescente.

Sabor

Um caráter moderadamente ácido está em perfeito equilíbrio com o malte, o trigo e as características de estábulo. Um dulçor complementar baixo pode estar presente, mas níveis mais altos não são tradicionais. Enquanto alguns podem ser mais predominantemente acres, o equilíbrio é a chave e denota uma gueuze melhor. Um variado sabor de fruta é comum, e pode ter um caráter similar ao mel. Um sabor suave de baunilha e/ou de carvalho é ocasionalmente perceptível. O malte é geralmente baixo e de pão e grãos. Um caráter entérico, esfumaçado ou como de cigarro é indesejável. O amargor do lúpulo é geralmente ausente, mas um amargor muito baixo de lúpulo pode ocasionalmente ser percebido; a acidez proporciona a maior parte do equilíbrio. Final refrescante, crisp, seco, e ácido. Sem sabor de lúpulo.

Sensação de boca

Corpo baixo a médio-baixo. Apesar da baixa densidade final, os muitos sabores enchem a boca impedindo que a cerveja seja percebida com uma textura aguada. Tem uma qualidade acre que provoca, como reação, um espasmo baixo a alto, sem ser acentuadamente adstringente. Algumas versões têm um suave caráter aquecimento. Altamente carbonatada.

Comentários

Gueuze é tradicionalmente produzida através da mistura de lambics com um, dois, e três anos de idade. A lambic “jovem” contém açúcares fermentáveis enquanto que a lambic mais envelhecida tem o sabor “wild” característico do Vale do Rio Senna. Um caráter notável avinagrado ou de sidra é considerado uma falha pelos cervejeiros belgas. Uma boa gueuze não é a mais pungente, mas possui uma bouquet completo e tentador, um aroma acentuado, e um sabor suave e aveludado. A lambic é servida sem carbonatação, enquanto a gueuze é servida efervescente. Os produtos marcados como oude ou ville são considerados mais tradicionais.

História

Cervejas wild espontaneamente fermentadas em Bruxelas e seus arredores (Vale do Rio Senna) são provenientes de uma tradição de vários séculos de cervejarias de fazenda e de misturadores artesanais de cervejas (blenders). O número de produtores está constantemente diminuindo e alguns produtores estão adoçando de forma não tradicional os seus produtos (pós-fermentação) para torná-los mais palatável para um público mais amplo. Este Guia descreve o produto tradicional seco.

Ingredientes Característicos

É utilizado trigo não maltado (30-40%), malte Pilsner e lúpulo envelhecido (3 anos). Os lúpulos envelhecidos são usados mais para efeitos de conservação do que para amargor, e são difíceis de estimar os níveis reais de amargor. Tradicionalmente, essas cervejas são fermentadas espontaneamente com leveduras e bactérias de origem natural, do ambiente, predominantemente em barricas de carvalho. Os barris usados são antigos e têm pouco caráter carvalho, então não espere um caráter de carvalho fresco ou nessa linha – um caráter mais neutro é típico. As versões caseiras e artesanais são tipicamente elaboradas com culturas puras de levedura normalmente incluindo Saccharomyces, Brettanomyces, Pediococcus e Lactobacillus, numa tentativa de recriar os efeitos da microbiota dominante em Bruxelas e nos arredores do Vale do Rio Senna. As culturas retiradas de garrafas são por vezes utilizadas, mas não há nenhuma maneira simples de se saber se os organismos ainda são viáveis. Comparação de Estilo: Mais complexa e carbonatada que uma lambic. A acidez não é necessariamente mais elevada, mas tende a ter mais de um caráter wild bem desenvolvido.

Estatísticas Vitais

OG: 1.040 – 1.060 FG: 1.000 – 1.006 IBUs: 0 – 10 SRM: 3 – 7 ABV: 5.0 – 8.0%

Exemplos Comerciais

Boon Oude Gueuze, Boon Oude Gueuze Mariage Parfait, Cantillon Gueuze, De Cam Gueuze, De Cam/Drei Fonteinen Millennium Gueuze, Drie Fonteinen Oud Gueuze, Girardin Gueuze (Black Label), Hanssens Oude Gueuze, Lindemans Gueuze Cuvée René, Mort Subite (Unfiltered) Gueuze, Oud Beersel Oude Gueuze

Etiquetas

Intensidade Alta, Cor Clara, Fermentação Wild, Europa Ocidental, Estilo Tradicional, família-wheat, Envelhecida, Sour

Quer conhecer mais sobre o estilo Gueuze, ou conferir sua aparência mais de perto? Te convido então à conhecer o nosso canal no YouTube, onde já temos um vídeo sobre o estilo! E claro, o bar está novamente aberto, para que você possa provar a cerveja artesanal que quiser.

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