Seguindo a linha do último texto, hoje falamos de mais uma cerveja feita de trigo! A Witbier, ou também chamada de Belgian White é uma cerveja clássica da Bélgica, que apesar de ser visualmente parecida com a Weizenbier, é bem diferente de sua vizinha.
Você sabia que esse estilo quase foi extinto, e foi ressuscitado graças à uma pessoa? Poisé, hoje temos histórias e receitas bem interessantes, e várias curiosidades!
Como surgiu a Witbier?
A Witbier é uma cerveja Belga, e sua receita é bem antiga, de quando não usavam ainda o lúpulo como ingrediente nas cervejas. Isso mesmo, o lúpulo que é tão comum hoje em dia, só se popularizou a partir da implementação da “Lei da Pureza da Cerveja” alemã de 1516!
As receitas de cervejas de antes disso são conhecidas como “gruit beer”. Isso porque ao invés do lúpulo, para balancear o dulçor do malte e dar amargor e aromas às cervejas, usavam um conjunto de ervas que chamavam de Gruit.
Em breve teremos um texto dedicado às gruit beers, fique ligado para conferir assim que ele sair! O importante para agora, é que é dessa época que vem uma das principais características das Witbier, que são os insumos extras dos
Criadas para o verão
As cervejas belgas são conhecidas por serem em sua maioria pesadas, escuras, com alto teor alcóolico e que esquentam o corpo. Ou seja, são receitas ótimas para o frio, mas não são boas para um clima quente! E foi pela falta de cervejas para se beber no calor, que surgiram as Witbier.
Feita para ser refrescante, a receita da Witbier atingiu esse objetivo pela adição de insumos extras, com os principais destaques sendo a casca de laranja e a semente de coentro!
Além disso, ela é uma cerveja de trigo que leva principalmente o trigo não maltado. Isso contribui para que a cerveja seja mais leve e menos doce do que as receitas que levam o trigo maltado.
Witbier: Um estilo salvo por um leiteiro
É exatamente isso que você leu! O estilo Witbier está entre nós por muito pouco, e a quem temos que agradecer a isso é o leiteiro da Bélgica Pierri Celis, que faleceu em 2011.
Agora vamos explicar essa história direito. Como já dito antes, as Witbier já eram conhecidas na Bélgica há muito tempo, bem antes do nascimento de Celis, em 1925.
Mas com o boom das Lager douradas, a popularização das cervejas bem lupuladas e outros fatores, as cervejas Belgas entraram em declínio. E com isso, as Witbier foram praticamente extintas por volta de 1950.
Por volta de 1960 foi Celis quem reviveu o estilo: ele havia trabalhado numa cervejaria quando mais novo, e baseando-se em suas memórias e do povo de sua cidade, ele abriu uma cervejaria para produção do estilo que ele sentia tanta falta!
A receita foi modernizada ligeiramente, utilizando o lúpulo como ingrediente para balancear o dulçor do malte, mas ainda os insumos extras tão característicos das Witbier: a casca de laranja e as sementes de coentro. Ele batizou sua cerveja de Hoegaarden, o nome de sua cidade.
Assim a cerveja novamente caiu no gosto do povo e fez muito sucesso, mas em 1990 ele vendeu a cervejaria para a Interbrew, hoje parte do grupo AB-Inbev. Após isso ele foi aos Estados Unidos, onde abriu mais uma cervejaria para produção de Witbiers, onde lançou a Celis White. Esta cervejaria também foi vendida, e ele voltou à Belgica, onde participou na criação de mais algumas receitas em parceria com outras cervejarias.
Sabor e Aparência das Witbier
A tradução literal de Witbier significa “cerveja branca”. Isso se deve à cor da cerveja, que como podem imaginar, é bem clara! Sua cor não passa do amarelo outro, e várias vezes é pálida e esbranquiçada.
Como dito antes no texto, o trigo usado é principalmente o não maltado, o que ajuda na leveza da receita, e a torna menos doce do que as receitas com trigo maltado. Além disso ela não é uma receita filtrada, o que confere o aspecto opaco à cerveja, além de incrementar ao sabor.
Quanto ao sabor das Witbier, elas são leves e agradáveis. São cítricas, com uma leve acidez e condimentadas. O lúpulo, assim como nas Weissbier, não é o foco do estilo: ele é adicionado apenas para contrabalancear o dulçor do malte (que não é usado em grandes quantidades aqui) com seu leve amargor, e deve passar despercebido.
Em seu aroma é possível perceber moderadamente o cítrico, similar ao miolo do pão, assim como o cítrico da laranja e o condimentado herbal da semente de coentro.
Esse estilo possui uma alta carbonatação, o que contribui para seu drinkability, que é altíssimo diga-se por sinal (drinkability é um termo usado para definir o quão fácil uma cerveja é de beber, o quando ela “chama pelo próximo gole”!).
Além de todas essas características, outra parte interessante sobre as Witbiers é que esses ingredientes citados apesar de serem os mais tradicionais, não são uma regra! Vários cervejeiros inovam e criam receitas criativas com suas próprias versões, como por exemplo, usarem casca de limão siciliano ao invés de laranja! Ou até mesmo outros condimentos como noz moscada, camomila e pimenta para conferir outros sabores e aromas diversificados ao estilo!
Harmonização com a Witbier
A harmonização de uma cerveja com os alimentos certos pode tornar sua experiência com a degustação do estilo muito mais agradável, marcante e única! Por isso é necessário escolhermos acompanhamentos que que buscam o equilíbrio entre a intensidade da cerveja e do prato, para que nenhum se sobressaia.
As Witbiers têm um sabor suave, e por isso pratos fortes podem não ser a melhor escolha para acompanha-as. Pensando nisso, frutos do mar, sushis e peixes como o linguado são ótimas escolhas! Pratos leves também funcionam bem com o estilo, como saladas (caesar salad é uma ótima!) e risotos. Queijos como o Brie e queijo de cabra também ficam ótimos.
Diferenças entre as Weizenbier e as Witbier
Se você está acompanhando os textos aqui do blog, então você sabe que lançamos o texto sobre as weizenbier (ou weissbier) na semana passada, e em precisaria ler essa parte porque já sabe de tudo, hein? Haha, bricadeiras à parte, caso tenha se interessado pelo estilo Weizenbier ou acabou perdendo o texto, vai dar uma conferida lá, é só clicar aqui!
Já citamos neste texto algumas semelhanças entre os dois estilos “vizinhos”: são ambas cervejas de trigo, tradicionalmente não filtradas, e que não possuem o lúpulo como foco da receita. Mas essas semelhanças param por aí, pois esses dois estilos são bem mais diferentes do que parecem.
Já na aparência, apesar de serem duas cervejas opacas, as Weizenbier costumas ser ligeiramente mais escuras do que as Witbier. Elas vão do dourado até o alaranjado, enquanto as Witbier chegam no máximo ao amarelo ouro.
Sua origem é bem diferente também, enquanto a Weizenbier veio da Bavária, região alemã, a Witbier veio da Bélgica. O sabor também difere bastante, pois apesar de ambas serem de trigo, a primeira é mais adocicada e remete à cravo e baunilha, e as vezes até mesmo à banana. Enquanto isso, a Witbier possui um gosto mais cítrico, e um herbal ligeiramente herbal e apimentado.
Quanto à sensação na boca, assim como o planejado para o estilo Witbier, ele é mais seco e refrescante do que as Weizenbier. A espuma também é outro fator, pois enquanto a alemã forma mais espuma, a cerveja belga forma uma espuma menor porém bem consistente.
Witbier no Brasil e no mundo
As Witbier têm grandes representantes pelo mundo, e algumas das grandes referências do estilo já foram citadas aqui no texto: a famosa Hoegaarden, receita que reviveu as White Belgian, e as cervejas da Celis White, do mesmo criador dessa última. Mas entre as estrangeiras, é a americana Blue Moon quem detém o recorde de Witbier mais vendida do mundo!
E além da gringa, temos ótimos representantes brasileiros da cerveja também! A cervejaria Praya é um ótimo exemplo, uma marca que produz apenas witbiers, e de muita qualidade (além disso, as fotos deles são incríveis, vale a pena conferir). Outros bons exemplos de Witbiers nacionais são a Schornstein Witbier, e a Snow Wit da cervejaria Synergy (o site deles está em manutenção, quando disponível adicionaremos o link).
BJCP
Como já é padrão aqui no blog, gostamos de passar aqui as definições do estilo de acordo com o Guia BJCP 2015, já que foi nele que foi baseada a nossa Tabela Periódica dos Estilos de Cerveja. E é isso que vamos passar agora!
Impressão Geral
Uma ale à base de trigo, refrescante, elegante, saborosa, de moderada intensidade.
Aroma
Moderado maltado doce (muitas vezes com leves notas de mel e/ou baunilha), com aromáticos de trigo suaves, condimentados e de grãos, geralmente com um pouco de acidez. Moderado perfume de coentro, na maioria das vezes com uma complexa nota herbal, picante, ou apimentada ao fundo. Moderado frutado com vivaz cítrico de laranja. Um baixo aroma de lúpulo condimentado-herbal é opcional, mas não deve nunca se sobrepor as outras características. Aroma vegetal, como de aipo, ou aromas como de presunto são inapropriados. As especiarias devem se misturar com os aromas frutados, florais e doces e não devem ser excessivamente fortes.
Aparência
Cor amarelo palha muito pálido ao dourado muito claro. A cerveja é muito turva em razão do amido dos grãos e/ou leveduras, o que lhe dá uma aparência leitosa, esbranquiçada-amarelado. Espuma denso, branca, como de mousse. A retenção de espuma deve ser muito boa.
Sabor
Agradável sabor de grãos maltados doces (muitas vezes com um caráter de mel e/ou baunilha) e um frutado vivaz cítrico de laranja. Refrescante e borbulhante (crisp) com um seco e, muitas vezes final ácido. Pode ter um baixo sabor de pão de trigo. Opcionalmente tem um muito leve gosto de acidez láctica. Os sabores de herbais e condimentados, que podem incluir coentro e outras especiarias, são comuns, mas devem ser sutis e balanceados, e não pungentes. Um sabor de lúpulo condimentado-terroso é baixo a nenhum, e se perceptível, nunca fica no caminho das especiarias. O amargor do lúpulo é baixo a médio-baixo, e não interfere com os refrescantes sabores de frutas e especiarias, nem persistir até o final. O amargor da casca da laranja não deve estar presente. Sabores vegetais como aipo, ou como de presunto, ou sabão são inadequados.
Sensação de boca
Corpo médio-baixo a médio, muitas vezes tendo uma suavidade e leve cremosidade do trigo não maltado e, ocasionalmente, da aveia. Apesar do corpo e cremosidade, o final é seco e muitas vezes um pouco acre. Caráter efervescente da alta carbonatação. Refrescante, pela carbonatação, leve acidez e falta de amargor no final. Sem aspereza ou adstringência de casca de laranja. Não deve ser excessivamente seca e fina, nem deve ser espessa e pesada.
Comentários
A presença, o caráter e o grau de condimentação e acidez láctica variam. As cervejas excessivamente condimentadas e/ou acres não são bons exemplos do estilo. Coentro de certas origens podem dar um inapropriado caráter de presunto ou aipo. A cerveja tende a ser frágil e não envelhece bem, pelo que os exemplares mais jovens, frescos, adequadamente manejados são os mais desejáveis. A maioria dos exemplares parecem ser de aproximadamente 5% ABV.
História
Um estilo de cerveja belga de 400 anos de idade, que morreu em 1950; que mais tarde foi revivido por Pierre Celis em Hoegaarden, e tem crescido em popularidade ao longo do tempo, tanto com os cervejeiros artesanais modernos como pelos produtores do mercado de massa que a vêem como uma cerveja sazonal de verão um pouco frutada.
Ingredientes Característicos
Cerca de 50% de trigo não maltado e 50% de malte de cevada claro (geralmente malte Pils) constituem a moagem. Em algumas versões, até 5-10% pode ser usado aveia crua. Especiarias de semente de coentro recém moído e Curaçao ou, às vezes, casca de laranja doce complementam o aroma doce e são muito característicos. Outras especiarias (por exemplo, camomila, cominho, canela, pimenta-da-guiné) podem ser utilizados para dar complexidade, mas são muito menos proeminentes. A levedura Ale propensa à produção de sabores condimentados suaves são muito característicos. Em alguns casos, é realizada uma fermentação láctica muito limitada, ou a adição real de ácidos lácticos.
Comparação de estilos
Baixo nível de amargor com um balanço similar a uma Weissbier, mas com as especiarias e o carácter cítrico provenientes de adições, ao invés da levedura.
Estatísticas Vitais
OG: 1.044 – 1.052
FG: 1.008 – 1.012
IBUs: 8 – 20
SRM: 2 – 4
ABV: 4.5 – 5.5%
Exemplos Comerciais
Allagash White, Blanche de Bruxelles, Celis White, Hoegaarden Wit, Ommegang Witte, St. Bernardus Witbier, Wittekerke
Etiquetas
Intensidade Standard, Cor clara, Fermentação Alta, Europa Ocidental, Estilo Tradicional, família-wheat-beer, Condimentada.
Confira Também Nosso Vídeo!
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